Capítulo 20
Escalada ao Topo
Passava da hora do almoço na cidade de Cyllage. Após uma manhã ligeiramente chuvosa, o céu gradualmente se abria para suaves raios de sol iluminarem a metrópole. Serena e Calem aproveitaram a estadia no grandioso Hotel Cyllage durante a manhã, sem qualquer pressa, aproveitando as instalações para uma merecida noite de sono e um café da manhã e almoço reforçados.
Mikala e Ashley também marcavam presença no hotel, por cortesia dos primos. O rapaz ficava boquiaberto mesmo com detalhes básicos do local. Ainda que Alola possuísse diversos hotéis e resorts para turistas, como vinha de uma família simples, o garoto não era acostumado com algumas novidades do gênero. A garota já era mais habituada, porém, reconhecia que o local possuía alguns diferenciais interessantes levando em conta os requintes da instalação.
— Como assim é só deixar a cama desarrumada que alguém vem limpar?! — indagou Mikala, surpreso.
— Espera só até você ver o café da manhã que eles servem. — disse Ashley, dando-lhe um tapinha nas costas.
— Ei Ash, depois da batalha a gente podia ir na praia!
— Que praia, garoto? — questionou a ruiva. — Não viu a chuva que acabou de cair?
— Mas já parou. — interveio ele.
— Eu já disse, eu vim para Geosenge. Trazer você até aqui foi apenas uma simpatia. — resmungou. — Depois da sua batalha nós vamos para lá.
— Qual o problema? — perguntou Calem se aproximando.
— A chata adora cortar o barato dos outros. — disparou Mikala.
— Nós também vamos para Geosenge daqui a alguns dias. — comentou Calem. — Tenham paciência que nós os acompanhamos.
Ashley coçou a cabeça e ajeitou seus óculos.
— Tudo bem, tudo bem. Estou precisando de uma folga, mesmo.
Cyllage era uma das maiores cidades de Kalos, ficando apenas atrás de Lumiose. Contudo, não deixava de manter um ar tranquilo típico de algumas localidades litorâneas, combinado a seu incentivo a práticas esportivas — desde surfistas a ciclistas visitavam o local e disputavam importantes competições — além de ser um grande centro econômico.
O ginásio era um dos principais destaques, contudo, os eventos esportivos tornavam a cidade uma grande atração turística e principalmente famosa, fazendo com que tivesse crescido bastante, sem perder certa simplicidade e beleza dos humildes municípios da parte costal de Kalos. Como estavam em uma estação mais quente, era comum que a Coastal Kalos recebesse atrações - ainda que o continente não fosse foco de visitas por suas praias, como seria Alola ou as Ilhas Laranja.
Apesar de estar louca para conhecer tudo aquilo que Cyllage teria a oferecer, fiquei convencida de que deveríamos primeiro partir para a batalha do Cal. Sabia que ele precisava tirar aquilo da cabeça antes de dar um próximo passo. A primeira batalha de ginásio dele, apesar de ter saído vitorioso, lhe trouxe muitas perturbações. Era nítido, pelo menos para mim. E ele treinara e estudara muito desde então, se preparando para a próxima competição. E eu sabia como deveria apoiá-lo.
Calem, Serena e Charlie foram na frente para a disputa, enquanto Mikala e Ashley resolviam algumas pendências. O caminho para o ginásio fora um pouco diferente do esperado: ficava afastado do centro da cidade, em um caminho rochoso próximo à Conecting Cave. O trio fez o caminho com certa velocidade, uma vez que Calem se recusou a subir qualquer rampa e chamou por um taxi para deixá-los na porta.
Quando apenas viu a porta de uma caverna decorada e com a placa “Cyllage Gym”, o rapaz já imaginou o que viria pela frente.
Todavia, ao pisar dentro do ginásio, percebeu que talvez tivesse feito um julgamento prepotente. A primeira sala em que entraram sequer parecia ser dentro de uma caverna: o piso, a iluminação, e praticamente tudo lembrava um prédio qualquer do centro da cidade. Os ecos, porém, não mentiam – e era possível ouvir o som de água quebrando em algum lugar.
— Posso ajudá-los?
A voz veio de um rapaz, que até então estava encostado em um balcão, conversando com um secretário. Quando se aproximou do grupo, foi possível percebê-lo melhor. Era alto, e tinha cabelos acastanhados que brilhavam em um tom quase de oliva. A pele clara com suave bronzeamento contrastava com seus reluzentes olhos verdes. O corpo esguio e aparentemente atlético era vestido com uma calça e blusão esportivos, como de quem acabara de sair de uma competição.
— Sou um treinador, e estou à procura do líder de ginásio responsável. — disse Calem de prontidão, com um discurso quase ensaiado.
— Ah, sim… — respondeu ele, tocando o queixo com a mão. — Sinto desapontá-los, mas ele não está presente no momento.
Calem quase caiu no chão.
— Eu. Não. Acredito!! — resmungava ele para os amigos, incrédulo. — Nós demos a volta em Kalos porque um ginásio estava fechado, e agora esse também está!
— Calma aí, calma aí. — disse o rapaz, fazendo um gesto com as mãos e se aproximando novamente. — O líder sofreu um acidente.
Os três se surpreenderam.
— Ele está bem? — indagou Serena, preocupada.
— Está, não foi nada grave. — respondeu ele com simplicidade, jogando os braços atrás da cabeça. — Estávamos escalando uma área montanhosa da Conecting Cave e sem querer ele escorregou e fraturou a fíbula. Mas já está se recuperando, ele é duro na queda. Só precisa ficar de repouso por mais alguns dias.
— Permita-me perguntar: Por que vocês estavam escalando uma montanha? — questionou Calem, não escondendo a expressão de reprovação.
— Por diversão, oras. — ele brincou. — Alpinismo é um esporte, e o Grant, o líder oficial do ginásio, é medalhista. — explicou. — Eu também participo de alguns campeonatos.
— Oh, isso é sério? — perguntou Serena, fascinada e de olhos brilhantes. — Parece fantástico!!
Charlie não evitou uma revirada nos olhos com certos ciúmes.
— Isso? Oras, é só escalar um monte de pedras, não tem nada de legal, princesa. Há muitos outros esportes fascinantes para praticar. — falou.
— Nisso temos que concordar. — assentiu o outro. — Por isso também nos dedicamos a outros esportes, como ciclismo, parapente, rafting…
Charlie se calou.
— A conversa está extremamente emocionante, mas o que sugere, já que o seu amigo esportista está machucado? — interrompeu Calem, não muito empolgado.
— Cal, se você quiser, podemos esperar alguns dias, como fizemos com a Viola quando ela estava viajando… — sugeriu a menina.
O moço interveio:
— Não é necessário. Grant está ausente, mas ele não deixaria o ginásio paralisado por conta disso, até porque levaria algumas semanas. — sorriu ele, revelando um grupo de dentes alinhados e brancos. — Portanto, eu, Dustin, assumirei em nome dele o seu desafio.
— Um substituto? — Calem ponderou por alguns momentos. — Não me leve a mal, mas prefiro esperar pelo líder com o pé quebrado. — disse, virando-se para a porta.
Dustin deu de ombros.
— Como preferir.
Serena e Charlie ficaram boquiabertos.
— Cal, dê uma chance. — disse a menina, o parando. — Se o líder original confiou o ginásio a ele, então deve ser um treinador tão bom quanto.
— Eu também acho que deve ser um inútil em batalhas. — interferiu Charlie. — Por mim, esperamos o líder verdadeiro.
Serena suspirou.
— Vocês é que sabem. — em seguida, animou-se. — Assim talvez o Dustin possa nos ensinar alguns esportes radicais enquanto esperamos…
— O.K., Calem, temos que conversar sério. — disse Charlie afastando o amigo para um canto separado. — Você precisa lutar com esse cara.
— Mas você não disse que…
— Não importa o que eu disse. Não está vendo que ele está dando em cima da Serena?
— Na verdade não.
— Já não bastava o surfistinha meia boca… — ponderou Charlie. — Você tem que dar uma lição nesse cara.
Calem fez um sinal com a mão para que parasse.
— O.K., eu o desafiarei. — assentiu, com uma expressão de cansaço no rosto. — Só queria deixar claro que eu já planejava fazer isso quando Serena sugeriu que ficaríamos alguns dias “praticando esportes radicais”, e não porque eu me importo com seus ciúmes toscos.
Naquele momento Mikala e Ashley haviam entrado no ginásio também. Aparentemente o outro garoto não teve muitos problemas com as condições do líder temporário, aceitando de cara o desafio. Calem e Charlie retornaram para o grupo.
— Senhor líder substituto, resolvi aceitar o seu desafio. — comentou Calem, de nariz em pé.
— Que honra. — disse Dustin sem tanta animação nas palavras.
O líder não-oficial guiou todos para um próximo ambiente. Ao passarem por um pequeno corredor, depararam-se com uma vitrine repleta de medalhas e troféus, equipamentos, e coisas do gênero. Havia prêmios importantes de esportes de risco, e mesmo alguns especiais de batalha. Pregado à parede havia também fotos de quem deveria ser Grant, o líder do ginásio, recebendo as honras e executando várias atividades em competições.
Serena e Mikala ficaram admirados com tudo aquilo, fazendo Dustin sorrir.
— Aquele ali é você? — indagou a garota, apontando para uma das fotos.
Nela havia o mesmo líder das outras fotos, abraçado ao rapaz que os acompanhava. Ambos pareciam mais jovens, mas a foto não era muito mais velha. Talvez tivesse alguns anos, no máximo. Os dois estavam com Pokémons aos seus lados, mas Serena não soube reconhecer quais espécies eram.
— Sou eu sim. — assentiu. — Foi em uma disputa no Battle Chateau, antes do Grant assumir o cargo. Ele ganhou de mim. — pontuou Dustin, dando uma risada descontraída. — Mas quanto tivemos uma revanche, eu venci.
O moço era tranquilo, sua voz soava como as águas que chegavam mansas à beira da praia. Parecia ser o tipo que conseguia manter o controle durante uma competição, e principalmente durante uma batalha. Além disso, demonstrara ser um companheiro antigo de batalhas do líder, logo, teria praticamente a mesma experiência dele, o que mostrava que apesar de não aparentar, seria uma ameaça.
O ginásio de Cyllage era especializado em tipos pedra. Por um lado, isso tranquilizava Calem, uma vez que já tinha contato com o tipo devido a Larvitar, portanto reconhecia as fraquezas que seus adversários poderiam ter. Contudo, também reconhecia que os guerreiros pertencentes àquele grupo eram altamente resistentes, e poderiam se demonstrar duros na queda.
Dustin guiou o grupo para o final do corredor, chegando a um local fascinante. Havia uma rocha imensa, em alguns pontos coberta por uma textura típica de paredes de escalada. A iluminação do ambiente era em grande parte feita por lâmpadas especiais, e focava principalmente no topo do monte, onde parecia haver um campo de batalhas. Ao fundo, uma cascata derramava água por entre pedras, criando um ambiente perfeitamente harmonioso, com elementos naturais combinados aos artificiais. Uma abertura no topo da caverna permitia que a claridade entrasse no campo.
— Bem, é claro que antes de nossa batalha você precisa primeiro chegar ao topo do campo, escalando essas rochas. — comentou Dustin.
Enquanto os olhos de Mikala brilhavam e Calem quase desmaiava, ele acrescentou:
— Estou apenas brincando.
— Poxa. — suspirou Mikala.
Em uma lateral da rocha havia uma escadaria um tanto extensa que levava até o topo. O Ginásio de Cyllage era especializado em tipos rochosos, portanto uma arena deste tipo era altamente propícia para a batalha – principalmente levando em conta que o local era dentro de uma caverna real.
— Não poderiam instalar um elevador, não? — resmungou Calem, ofegante, durante a caminhada.
Ao chegarem no topo, era possível ver com detalhes a imensa queda de água que se colocava no fundo da caverna. Havia uma abertura no teto que permitia alguns feixes solares entrarem, e conforme batiam na cachoeira, provocavam mini arco-íris. O campo de batalhas era maior do que se esperava, porém, por ser aberto, seria um risco. Um movimento errado poderia derrubar alguém daquela imensa altura.
— Qual de vocês dois quer ir primeiro? — Dustin tirou todos de seus devaneios.
Calem e Mikala se entreolharam.
— Pode ir. — disse o primeiro.
— Então serei eu mesmo! — Mikala concordou, animado.
Dustin pegou um pequeno computador e pareceu checar algo, assentindo com a cabeça logo em seguida.
— Certo, até o que me parece, essa é sua primeira batalha de ginásio. — ponderou.
Mikala levou um susto:
— Como ele sabe disso?
— Os líderes tem um sistema que avalia sua experiência. — explicou Ashley. — Para tornar a batalha mais justa.
Aqueles que iriam assistir à batalha colocaram-se em bancos que ficavam em uma área fora da arena, enquanto Mikala ia ao outro lado do campo, aguardando as informações do moço. O garoto parecia extremamente ansioso, sorrindo descontroladamente.
— Certo, Mikala. — disse o líder guardando o computador e puxando uma de suas Pokébolas do bolso. — Esta batalha será de um contra um. Não há muito o que dizer: quando o Pokémon de um estiver incapaz de continuar o combate, o outro será o vitorioso. — explicou.
— Fechou. — disse, puxando uma de suas Pokébolas. — Froakie, é a sua hora!!
O garoto havia feito alguns gestos com as mãos e ficado por alguns segundos em silêncio, pedindo forças para enfrentar aquela batalha. Em seguida, lançou a esfera, que logo deu lugar para o inicial aquático de Kalos, colocando-se em uma posição de batalha. Dustin sorriu de canto e atirou a Pokébola que já tinha em mãos.
— Certo, vamos lá.
Dos raios de luz da pequena esfera, tomou forma uma criatura curiosa. A princípio parecia um pedaço de rocha qualquer encontrado em uma praia. Contudo, emergiram de dentro dois seres que pareciam mãos a princípio, porém, tinham expressões nervosas onde seria a palma, revelando serem um Pokémon presente no litoral de Kalos, Binacle.
— Utilizar Pokémons aquáticos em um ginásio do tipo pedra é um movimento previsível. — comentou Dustin, uma vez que seu Pokémon possuía também o tipo aquático. — Vamos ver como você lida com a batalha sem vantagens.
— O.K. — assentiu Mikala. — Vamos começar com o Quick Attack.
— Fury Swipes, Binacle.
Froakie deu um forte impulso com as patas traseiras e partiu em direção do adversário em um movimento ziguezagueante e confundível com grande agilidade. Por um instante, os dois corpos de Binacle pareciam em dúvida, porém, quando o sapo chegou perto o suficiente para atingi-los, ambos fizeram um movimento combinado, arranhando e derrubando Froakie antes que os acertasse.
— Esse Pokémon é composto por dois corpos, na verdade, que trabalham juntos em perfeita sincronia. — explicou Dustin. — Não é um exemplo incrível de como a natureza funciona?!
Mikala fez uma cara de espanto.
— Oh, pra ser sincero é mesmo fantástico! Quero muito ter um desses!! — comentou.
— Não é raro encontrá-los na parte mais rochosa da praia de Cyllage. — explicou. — Caso queira procurá-los, encontrará várias espécies interessantes por lá.
— Puxa, eu imagino. Espero passar lá depois, nesse caso.
Os dois continuaram o assunto, empolgados, o que fez Calem ficar confuso, em seu lugar.
— Por que eles estão conversando? — indagou, confuso.
— Acho que estão descontraindo da batalha. — Ashley deu de ombros.
Meu primo estava claramente incomodado com Mikala. Talvez não necessariamente incomodado, mas tentava entendê-lo. Ele parecia comigo: tinha fascínio pelo mundo, pela aventura, pelos Pokémons. Tudo o que fazia, fazia com o máximo de sentimento, encarava uma batalha como um evento importante e sagrado. Ele não simplesmente combatia, para ele tudo tinha mais significado. Talvez Cal precisasse aprender um pouco com ele.
— Você parece um cara legal, Mikala. — Dustin sorriu. — Temos que pegar uma onda qualquer dia desses.
— Tá fechado então. — concordou o garoto, animado. — Por agora, Froakie, Bubble!
Brevemente voltando para a batalha, o pequeno sapo disparou um jato de bolhas estrategicamente, que atingiu e deslocou ligeiramente o oponente do chão. Apesar de também pertencer ao tipo aquático, Binacle ainda era do tipo pedra, e sofria um dano razoável com os golpes de Froakie.
— Binacle, Rock Tomb.
— Quick Attack!
O Pokémon de pedra utilizou o ataque-marca do ginásio. Os dois corpos se uniram em um movimento conjunto, e a arena tremeu levemente. Diversas rochas do solo foram levantadas, sendo atiradas em conjunto na direção de Froakie. O Pokémon, contudo, devido ao Quick Attackconseguira escapar milésimos de segundo antes. Os pedregulhos caíram com tanta força que formaram um amontoado onde antes estava o Pokémon aquático, mostrando que talvez o ataque tivesse sido decisivo. Froakie conseguiu avançar sem problemas em Binacle, o atingindo dessa vez e tirando-o de combate.
Mikala ficou por alguns momentos apenas respirando ofegante.
— EU VENCI? — indagou.
— Você venceu. — Dustin sorriu.
— Caraca, eu nem acredito. — disse ele se ajoelhando, animado, em seguida correndo em direção a seu Pokémon. — Froakie, tu foi incrível, meu parceiro!
Os dois se abraçaram em comemoração. O líder retornou o Pokémon para sua esfera e dirigiu-se ao desafiante, no centro da arena. Estendeu-lhe uma mão, e os dois se cumprimentaram, satisfeitos.
— Foi uma excelente batalha. — admitiu. — Vejo que tem muito futuro como treinador.
Mikala deu um sorriso envergonhado e agradeceu pelo elogio. Em seguida o moço olhou para o grupo e apontou.
— Calem, certo? Está pronto para me dar uma batalha nesse nível? — perguntou.
Calem levantou-se sem dizer nada, caminhando a lentos passos até seu lugar na arena. Passou ao lado de Mikala, murmurando:
— Parabéns.
— Obrigado. — ele agradeceu, empolgado.
Serena viria a comemorar com ele. Agora havia certa pressão para Calem: uma batalha naquele nível. Nada menos que isso. As palavras ecoaram na mente do garoto e o deixaram incomodado. Alongou os braços e a cabeça enquanto o líder se recompunha e checava os seus dados no computador, pronto para o próximo combate.
— Faremos diferente, Calem. — anunciou. — O Grant vai me matar, estou distorcendo todas as regras do ginásio dele. — riu. — Façamos uma batalha em dupla.
— Cada um utiliza dois Pokémons simultaneamente, até que um dos lados caia? — confirmou Calem.
O líder fez que sim com a cabeça.
— Você entendeu bem.
O líder lançou duas Pokébolas de suas mãos, que subiram no ar em sincronia e revelaram as criaturas que abrigavam. Em uma delas revelou-se uma criatura já vista antes pelo grupo: Um Tyrunt, idêntico ao que Calem obtivera alguns dias antes. De outra esfera, surgiu uma criatura diferente, mas também uma espécie ancestral. Era um dinossauro quadrúpede, de tom de azul tão claro que era quase gelo. Possuía um pescoço alongado, e em torno de seus olhos tinha estruturas que brilhavam com a luz solar e variavam entre tons de amarelo e rosa. Era Amaura, um Pokémon que antes habitara áreas glaciais do planeta.
Calem puxou uma de suas Pokébolas e a ficou encarando por momentos mais longos que gostaria. Após um grande suspiro, guardou-a de volta.
— Desculpe, Larvitar, mas não posso arriscar.
O rapaz puxou outras duas Pokébolas e as atirou no campo, revelando de um lado seu Magikarp, que começou a se debater no chão, e Honedge, que até então não havia entrado em uma batalha oficial ao lado de seu treinador. O espírito tirou a espada da bainha e colocou-se em uma posição de ataque, nobremente.
— Ele não escolheu o Larvitar? — questionou Charlie, confuso.
— Deve querer evitar que ocorra o mesmo da última batalha, contra a Viola. — refletiu Serena.
Dustin estendeu a mão.
— Pode fazer o primeiro movimento.
Calem concordou com a cabeça, apontando para seus Pokémons.
— Magikarp, Tackle. Honedge, Swords Dance.
Magikarp naquele momento pegou impulso com sua cauda e atirou-se para Tyrunt, não causando muitos danos e sendo atirado de volta. Enquanto isso, Honedge permaneceu no local em que estava, fazendo movimentos complexos com seu corpo e afiando-se nas rochas ao redor, como um guerreiro que preparava a sua espada antes de uma batalha pelo seu reino.
— Nossa vez. — falou Dustin. — Tyrunt, Bite, e Amaura, Take Down.
Os dois começaram a correr de maneira quase sincronizada em direção aos adversários. Amaura avançou com força contra Magikarp, causando-lhe grandes danos, porém, o impacto também trouxe alguma fraqueza para o Pokémon de gelo. Tyrunt mordeu a espada, não conseguindo extrair muito efeito, apensar da vantagem. Calem estalou o pescoço.
— Magikarp, repita. Honedge, use o Pursuit.
— Rock Tomb!
O time de Calem avançou em direção aos dinossauros, porém, o treinador percebeu uma movimentação arriscada. Honedge deu um golpe certeiro de sua espada em Tyrunt, enquanto Magikarp acertava Amaura. Todavia, ambos pareciam esperar o ataque, em uma armadilha. Quando os dois Pokémons do treinador preparavam-se para retornar do ataque, diversas rochas foram içadas e arremessadas contra ambos. Honedge dançou no ar e escapou por pouco do ataque, porém, Magikarp fora soterrado pelo ataque duplo, sem conseguir se esquivar na terra.
— Senhor Peixe… — murmurou Calem, retornando-o sem sequer conseguir ver onde estava o Pokémon em meio a tantas pedras.
— Uma batalha em dupla não é o mesmo que duas batalhas individuais simultâneas. — alertou Dustin, de seu lugar. — Uma batalha em dupla é um combate entre times. Os dois precisam ter sincronia e coesão entre seus movimentos. Guarde sempre isso com você.
— Agradeço pelo conselho, mas não sou tão iniciante quanto você pensa, líder substituto. — disse Calem de maneira corriqueira, porém rude. — Metal Sound!
Honedge golpeou uma pedra, fazendo um som de metal sendo riscado. O barulho incomodou a todos os presentes, e ganhou maiores proporções devido ao eco da caverna, atingindo em cheio os dois Pokémons e os deixando ligeiramente desestabilizados com a confusão do sentido auditivo.
— Vamos terminar isso com Rock Tomb. — comandou o líder.
— Shadow Sneak! — gritou Calem, confiante.
Novamente os dois Pokémons, em sincronia, levantaram um grande número de pedras e dispararam de várias direções em Honedge. As pedras eram grandes, e o fato de ser um ataque duplo tornava quase impossível sobreviver a ele. Em questão de segundos havia uma montanha de rochedos maior que a anterior onde antes estava Honedge, e o líder sorriu, satisfeito:
— Parece que…
— Agora! — comandou Calem.
Em um golpe inesperado, Honedge saiu de dentro do chão, golpeando de maneira súbita Tyrunt, que por não esperar o ataque e ser gravemente danificado, caiu derrotado. O golpe permitira que Honedge potencializasse suas características etéreas de fantasma e escapasse das rochas por dentro do solo. Dustin pareceu impressionado com o movimento.
— Tenho que admitir que me pegou de surpresa. — disse o moço. — Amaura, Aurora Beam.
— Finalize com o Shadow Sneak. — solicitou o garoto com simplicidade.
O dinossauro preparou-se para lançar um ataque especial. As cores em torno de seus olhos começaram a mudar, e uma fumaça típica do ar em condensação surgiu onde o raio começava a ser preparado. Contudo, a espada mais uma vez adentrou o solo momentos antes do ataque, confundindo Amaura e impedindo que escapasse do golpe certeiro que lhe deu nas costas logo em seguida, derrotando-o com maestria.
— Ele venceu! — gritou Serena, levantando-se.
— E dessa vez não foi por desobediência. — adicionou Charlie, abrindo um pequeno sorriso.
Calem evitou transparecer, mas a vitória lhe trouxe satisfação e grande alívio. Honedge voltou a se colocar em uma posição de respeito, como se insinuasse “só isso?”. Apesar de algumas dificuldades, o fantasma derrotou dois Pokémons do ginásio praticamente sozinho, e sequer demonstrava sinais de fraqueza ou cansaço. Permanecia apenas seu olho impassível próximo ao cabo.
Dustin aproximou-se do rapaz e fez um sinal para que Mikala também fosse. Trazia consigo uma pequena caixinha em mãos, que sabiam o que significava.
— Calem, devo admitir que eu o subestimei a princípio. — ele riu, e Calem apenas deu de ombros. — Porém, você e Mikala provaram que são suficientemente persistentes para vencer uma batalha no ginásio de Cyllage.
Ele abriu a caixinha em um momento típico de final batalhas de ginásio, com um discurso praticamente ensaiado e congratulações típicas. Revelou uma pequena insígnia para cada e lhes ofereceu. O símbolo possuía lados irregulares e vários relevos diferentes em cada pedrinha, como uma parede de escalada em miniatura.
— Essa é a Cliff Badge, e representa a parede de escalada do ginásio. — explicou ele. — Tanto eu como Grant gostamos de esportes extremos, porque acreditamos que exigem controle e persistência mesmo em situações críticas. É esse o espírito que o Grant procura trazer no ginásio, e espero que vocês ainda possam batalhar com ele algum dia.
Mikala quase não se conteve de alegria, exibindo o pequeno símbolo para todos. Serena o acompanhou com entusiasmo, Ashley apenas assentiu com a cabeça, e Charlie fingiu que não viu. Calem, em seu canto, olhou para o pequeno símbolo e esboçou um sorriso tão discreto que fora imperceptível pelos outros. Guardou o emblema em seu porta-insígnias, junto da que recebera de Viola. Já vencera dois ginásios.
— O que faremos agora? — questionou Mikala, empolgado.
— Agora que você já fez sua parte, me deixe relaxar em paz. — falou Ashley, fazendo um sinal com a mão.
Dustin riu.
— A cidade possui diversos atrativos, tenho certeza que acharão formas de se divertir. Se estiverem aqui ainda amanhã e quiserem tentar algo novo, é só virem até mim!
O grupo concordou, e particularmente Serena e Mikala pareceram empolgados com a ideia. Todos prepararam-se para deixar as instalações do ginásio, descendo as extensas escadarias ao longo da rocha. Dustin permaneceu lá, alongando e colocando as Pokébolas e outros objetos no lugar novamente. Ouviu um pequeno barulho vindo de seu bolso e caçou seu Holo Caster.
— Fala, Grant. Não, tá de boa, pode falar. Acabei de batalhar contra dois garotos, e eles se saíram bem. Mas não sei se consigo ficar muito mais tempo nesse trabalho, vê se volta logo desse “projeto secreto” aí. Vocês especialistas em pedras são meio malucos…
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